Globo foge do debate imposto pelo coronavírus
Fuga da realidade
“La verdad és la realidad”, disse Peron; dela, infelizmente, a Globo foge como o diabo da cruz; basta ver as trocas de fartas entre o repórter Gerson Camaroti e sociólogo Demétrio Magnolli, ontem, na Globonews, quando estava em debate aglomerações humanas nas praias, durante passagem de ano no litoral paulista; é claro que Camaroti está com a razão em reação à colocação irracional do sociólogo de considerar compreensível a aglomeração nas praias, como alívio para a população relaxar depois do estresse das aglomerações nas ruas, praças, meios de transporte, fábricas etc ao longo do ano.
Seria execrável impedir a liberdade de ir e vir nessa hora? Ou tal liberdade representaria manifestação de inconsciência política e social quanto ao entendimento da população para situação extraordinária à qual está submetida por forças exteriores a sua própria realidade e vontade? Por que a escassez de tal consciência? Quem contribui, hoje, para ela, senão a miséria política decorrente de uma divisão política radicalizada pelos extremismos ideológicos fundamentalistas que acompanham o neoliberalismo tupiniquim comandado por governo presidido por sociopata?
Ora, não se percebe que o contágio pandêmico decorre da aglomeração seja nas ruas ou nas praias? Argumentação injustificável essa do Demétrio; o que ele, como sociólogo, deveria falar, com coragem? Certamente, fazer análise sociológica, pelo menos; as pessoas estão ou não sendo mandadas para a morte por imposição do capitalismo selvagem, tocado pela financeirização econômica, que destrói direitos econômicos e sociais? A Globo e a mídia conservadora em geral focam ou não no essencial que, sobretudo, deve ser suprimido para enfrentar a pandemia: política econômica neoliberal que está produzindo condições de vida insuportáveis, responsáveis pela expansão do desemprego, da concentração da renda e da absurda desigualdade social? Tal conjuntura favorece ou não a disseminação do vírus, nessa segunda onda de ataques que promove, evidenciando sua capacidade mutativa de gerar maiores incertezas relativamente à eficácia das vacinas fabricadas para combatê-lo?
Neoliberalismo exterminador
Sem dúvida, nesse instante, a arma de exterminação humana, competindo com o novo coronavírus, é o modelo neoliberal, vigente em maior intensidade nas periferias capitalistas, já que no capitalismo cêntrico, a utilidade neoliberalizante deixou de ser verdade; o que, nesse instante, é abandonado, como algo nefasto à sobrevivência humana? Simplesmente, o falso entendimento ideológico utilitarista neoliberal para promover ajuste econômico a qualquer custo, em nome de equilibrismo orçamentário. Tal orientação em meio à pandemia assemelha à decisão de Hitler de cremar judeus no holocausto; promove-se a matança em nome do ajuste fiscal, para sustentar lucratividade do capital no embalo da financeirização econômica global.
Ajuizadamente, os BCs, nos países capitalistas desenvolvidos, abandonam a política monetária restritiva, teimosamente, praticada no Brasil; por aqui, ela se encontra enjaulada no conceito ideológico fundamentalista de que o governo é tal qual dona de casa que não pode gastar além do orçamento familiar; é a mais absoluta negação da verdadeira natureza do Estado, em sua formação histórico-cultural, para expansão do sistema capitalista. O Estado, acima de tudo, é capital, poder sobre coisas e pessoas, que, via dívida pública, se expande para ampliar território, arrecadação, moeda e dominação capitalista em escalada global, como ensina José Luís Fiori em “História, Estratégia e Desenvolvimento – para uma geopolítica do capitalismo”(Boitempo).
Por isso, diante do crash de 2008, frente ao colapso financeiro dos bancos, braços executores da expansão capitalista, o Estado americano seguiu o Estado japonês: jogou no lixo a teoria monetária restritiva neoliberal para adotar a moderna teoria monetária(MMT); por esta, o Estado, que emite sua própria moeda, não tem restrição para gastar; segue, instintivamente, a exigência do desenvolvimento nacional e, principalmente, as exigências de caráter excepcional que o ameaça.
Sobrevivência do Estado
O novo coronavírus representa ameaça à própria expansão capitalista; ele se põe como inimigo tanto do homem como do Estado, bloqueando sua principal característica como instrumento humano do desenvolvimento econômico-social; diante do vírus como inimigo excepcional, resta ao Estado lançar mão da expansão monetária sem limite como arma para garantir sua sobrevivência; do contrário, não erradicará seu inimigo, mas será, sim, erradicado por ele; essa é a discussão que se amplia, mundialmente, como imperativo categórico kantiano, inclusive, como preventivo para emergências sociais revolucionárias que podem jogar o capitalismo para os ares.
O distanciamento social como remédio indispensável para enfrentar, precariamente, o vírus, antes que se criem as vacinas, plenamente, confiáveis e eficazes, é um desses imperativos; por isso, ao lado dele, o Estado deve operar nova política monetária antineoliberal; é ela que irá gerar poder de compra necessário ao consumo da população ameaçada, incapaz de enfrentar, desarmada, situação emergencial imposta pelo vírus; o auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso, no primeiro semestre do ano passado, revelou o caminho do melhor enfrentamento ao vírus; sem ele, Bolsonaro joga Brasil em situação pré-revolucionária.
Trata-se de providenciar o mais rápido possível, no país, o que já se disseminava no mundo, antes da emergência do vírus, ou seja, colocar, aqui, também, a MMT, essencialmente, humanista, antes de qualquer caracterização ideológica, como destaca o economista Petrônio Filho, consultor econômico aposentado do Senado. (https://www.facebook.com/cesar.fonseca.3766/posts/3670656649637658)
Esse é o debate, que vai mexer com a banca, que manda no governo por meio do Banco Central, que Demétrio Magnoli deveria, com sua sapiência sociológica e antropológica, debater, na Globo, em vez de sair com escapismos incompreensíveis e reacionários; ele expôs, sobretudo, a indigência mental que toma conta do debate na anti-tevê dos Irmãos Marinho, em sua fuga desesperada da realidade, marca registrada da elite midiática conservadora.
Maria Duarte, Getúlio e a política social varguista


Educação revolucionária getulista
Luta na capital
Marina vira protagonista na defesa do auxílio emergencial
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Sustentabilidade política
Feminismo peronista socialista garante lei do aborto
Aborto como direito social
As mulheres argentinas estão comemorando sua grande conquista histórica com duas leis aprovadas no Senado: 1 – lei que autoriza interrupção da gravidez, e; 2 – a lei de mil dias, período no qual o Estado garante a sobrevivência da mulher pobre que faz a opção pela maternidade e não pelo aborto; o aborto legalizado é garantia de saúde, antes de ser questão moral, alvo de preconceitos e fundamentalismos medievais; era tratado como crime; a mulher se sentia criminalizada, diante da sociedade machista, regulada pelo contrato de casamento em que ela é tida como mercadoria; agora, essa prisão mental é extirpada da consciência social; vigora nova legislação social peronista, a soberania da mulher sobre sua natureza vista e sentida como totalidade pelo Estado; a decisão soberana é um direito público universal; eleva a taxa de liberdade feminina diante do machismo; cai mais uma barreira imposta pelo conceito de propriedade que trata a mulher como objeto e não sujeito.
Conquista da liberdade
As argentinas vivem nesse momento essa sensação de liberdade; trata-se de evolução civilizatória dada pela estrutura política do peronismo nacionalista social democrata; não teria sido possível alcançar essa vitória no governo neoliberal de Macri, semelhante ao de Bolsonaro, anti-aborto, anti-feminista, machista preconceituoso, ideologicamente fundamentalista medieval; quem é moderno, do ponto de vista social, o macrismo neoliberal ou o peronismo socialista feminino; Bolsonaro, até o momento, sequer se solidarizou com as mulheres assassinadas por maridos machistas, possessivos, negacionistas; é o contrário de Fernandez, pró-aborto, o que significa oferta de infraestrutura de saúde pública para garantir a dignidade feminina.
A libertação feminina por meio da legalidade do aborto é salvação das mulheres mais pobres; elas se livram da escravidão privada que cobra caro para abortá-las; o Estado, a partir de agora, é o libertador das mulheres que se submetem ao aborto, oferecendo-lhes toda a infraestrutura necessária; tira das costas delas tanto o custo econômico como o custo moral, emocionalmente, desestabilizante; trata-se de conquista democrática socialista latino-americana.